segunda-feira, 12 de junho de 2017

Crédito à habitação com taxa fixa não compensa

É a grande aposta da banca em Portugal nos últimos meses para o crédito à habitação. As propostas com taxa de juro fixa — e não com taxa variável indexada à Euribor, como tem sido a regra em Portugal — estão a aumentar. Sinal disso: um terço dos novos contratos no primeiro trimestre foram com taxa fixa. O argumento apresentado pela banca aos consumidores é claro: as taxas Euribor estão em mínimos históricos, a situação não vai durar e, quando começarem a subir, as prestações vão ficar mais caras nos créditos com taxa de juro variável. A taxa fixa protege-os desse risco.
Mas será que vale a pena? Nuno Rico, economista da Deco Proteste, acha que não. “As propostas no mercado não são competitivas”, afirma, considerando que “a banca virou-se para esta solução para conseguir maior rentabilidade”. Pelas contas do Expresso, a conclusão é a mesma. Comparámos o custo para o consumidor de um crédito com taxa de juro fixa a cinco anos (considerando uma taxa de 0,3113%, a média dos valores anunciados nos preçários dos maiores bancos que têm crédito à habitação com taxa fixa a cinco anos) com um crédito com taxa de juro variável.
Para quem tem empréstimos já em pagamento indexados à Euribor, por exemplo, a três meses, não faz sentido mudar para taxa fixa. Isto porque a expectativa do mercado — que, atenção, pode mudar a qualquer momento — é de que só na primavera de 2021 o valor da Euribor a três meses atinja esse valor ‘médio’ da taxa fixa. Ou seja, quase no final do prazo de cinco anos.
Para quem quer contratar agora um empréstimo, a única opção de taxa variável disponibilizada pelos maiores bancos é indexar à Euribor a 12 meses. Aqui, a comparação é mais difícil, porque não há no mercado futuros sobre a Euribor a 12 meses. O Expresso recorreu às estimativas da consultora Informação de Mercados Financeiros para a evolução desta taxa e chegou à conclusão de que a taxa de juro variável continua a ser mais vantajosa do que contratar um crédito com taxa fixa a cinco anos. Tendo em conta um empréstimo a 30 anos com um spread de 1,75 pontos percentuais, a opção pela taxa variável custa menos €539 a €5395 nesse período de cinco anos para créditos de €100 mil a €1 milhão.

COBRAR PELA SEGURANÇA

Há dois grandes problemas com as propostas com taxa fixa no mercado. Primeiro, os bancos cobram um prémio pela segurança que dão ao cliente. A banca financia-se tendo como referência juros negativos, recorrendo aos swaps de taxa de juro para trocar valores indexados às Euribor por montantes fixos. Mas as taxas fixas que cobram — e a que é preciso somar o spread — são quase sempre superiores às taxas swap. A exceção, entre os maiores bancos, é o Santander Totta.
Segundo, o período máximo em que o cliente pode fixar a taxa — ou seja, em que a prestação se mantém constante — não abrange, em regra, o prazo médio dos créditos à habitação, que em Portugal é de 30 anos. Entre os cinco maiores bancos em Portugal, só o BPI disponibiliza esse prazo. Segue-se a CGD, com 25 anos, o Novo Banco, com 15 anos, o Millennium bcp, com 10 anos, e o Santander Totta, com cinco anos. Terminado esse período, passa a ser aplicada a taxa variável indexada à Euribor. Tradução: o cliente fica sujeito às condições que vigorarem no mercado nessa altura.

fonte: Expresso

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