quarta-feira, 6 de julho de 2016

Juros do crédito da casa abaixo dos 2% pela primeira vez

Nunca os portugueses beneficiaram de condições de acesso ao crédito à habitação tão vantajosas como em Maio. Dados divulgados ontem pelo Banco Central Europeu, indicam que a taxa de juro média dos novos empréstimos para a compra de casa contratualizados naquele mês ficou, pela primeira vez, abaixo da fasquia dos 2%. A taxa de juro média dos novos créditos à habitação baixou de um valor médio de 2,02%, em Abril, para os 1,96%, em Maio, o que corresponde ao patamar mais baixo de sempre. A expectativa é de que a tendência de quebra se prolongue pelo menos nos próximos meses.

A descida da taxa de juro cobrada pelos bancos nos novos empréstimos para a aquisição de casa decorre de dois factores. Um deles é a descida dos indexantes, que começaram a trilhar terreno negativo há mais de um ano, desde que em Abril de 2015 a Euribor a três meses assumiu pela primeira vez valores negativos. Uma tendência que acabou por se estender progressivamente aos restantes indexantes com prazos mais alargados. “Os indexantes continuam a baixar, mesmo a Euribor a 12 meses que é actualmente o mais utilizado para novas operações a taxa variável”, salienta Filipe Garcia, economista da IMF.

A queda dos ‘spreads’ praticados pelos bancos complementa a explicação para a tendência de quebra dos custos de financiamento para a compra de casa das famílias portuguesas. Depois de, em Julho de 2013, o BES (actual Novo Banco) ter dado o pontapé de saída para o rumo descendente dos ‘spreads’, os restantes bancos a operar em Portugal seguiram os mesmos passos. A actual margem mínima de ‘spreads’ cobrados pelas instituições financeiras é, em média, metade daquela que estava em vigor no pico da crise. “Os bancos têm facilitado o acesso ao crédito para a compra de habitação, baixando os ‘spreads’ – nota-se mais concorrência entre os bancos neste segmento, comparando há um ou dois anos”, recorda Filipe Garcia. Actualmente, há nove bancos onde é possível contratar um crédito à habitação com ‘spreads’ mínimos inferiores a 2%. O Bankinter, que comprou os activos do Barclays em Portugal, é a instituição que apresenta actualmente a margem mínima de ‘spreads’ mais baixa do mercado: 1,25%. Entre os maiores bancos nacionais, responsáveis pelo grosso do crédito para a compra de casa concedido em Portugal, o Santander Totta é o que apresenta a margem mínima de ‘spreads’ mais baixa – 1,5% - , seguindo-se a CGD e o Millennium bcp, cobrando ambos a partir de 1,75% para emprestar dinheiro com essa finalidade.

Juros deverão continuar a cair pela via dos indexantes

De acordo com os especialistas consultados pelo Económico, o actual contexto favorece a manutenção do rumo descendente dos encargos das famílias portuguesas com o crédito à habitação. Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, explica que a tendência de queda dos juros da casa “deverá manter-se nos meses mais próximos, reflectindo sobretudo o agravamento das perspectivas para a zona euro posteriores ao referendo no Reino Unido”. E acrescenta: “Desde então, a tendência de queda das Euribor agravou-se e os mercados de futuros de taxas de juro estão a descontar a possibilidade de que o BCE implemente medidas adicionais de política monetária”. A evolução dos futuros para a Euribor a três meses aponta actualmente para que o indexante continue a deslizar para terreno cada vez mais negativo até ao final de 2017, fixando-se nessa altura em -0,405%. Só a partir do segundo trimestre de 2018 este indicador aponta para uma reversão do rumo do indexante que, contudo, é antecipado se mantenha em terreno negativo até Dezembro de 2020.

Já do ponto de vista dos ‘spreads’, Filipe Garcia, acredita que a margem de reduções é muito mais curta. “Na minha opinião, é de esperar que o indexante continue a recuar, mas não vejo muito mais espaço para queda de ‘spreads’”, acredita o economista, defendendo que “só será uma redução relevante se a política monetária se tornar ainda mais expansionista”. Filipe Garcia complementa a explicação, referindo que a tendência será para que haja cada vez mais preferência por contratar empréstimos a taxa fixa e que isso dificulta a redução de ‘spreads’.
 
Fonte: Economico

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