segunda-feira, 27 de abril de 2015

Taxa negativa no crédito da casa vai manter-se até 2016

Os futuros da Euribor a três meses apontam para que esta se situe, em junho de 2016, nos -0,02%. Isto quando a média mensal desta taxa a três meses se fixou, em março, nos 0,027%.

De acordo com os cálculos do DN/Dinheiro Vivo, uma família com um empréstimo de cem mil euros a 30 anos, com um spread (taxa acrescida à Euribor e que, na prática, representa a margem de lucro dos bancos) de 1% indexado à Euribor a três meses tem, atualmente, uma prestação de 322,88 euros. Com o mesmo empréstimo, mas com a Euribor a -0,02%, a prestação desce para 320,72 euros, ou seja, menos 2,16 euros.

"Não há propriamente uma surpresa, sobretudo tendo em conta o comportamento que tem vindo a verificar-se nos últimos tempos. Aliás, a evolução da Euribor a uma semana e a um mês demonstra que a tendência é para continuar", afirmou Filipe Garcia, economista da consultora Informação de Mercados Financeiros (IMF), ao DN/ Dinheiro Vivo.

Apesar da queda de ontem para terreno negativo da Euribor a três meses, esta apenas deverá ser sentida no valor a pagar em julho. Isto porque para o cálculo da prestação da casa é utilizada a média mensal da Euribor do mês anterior ao da revisão do crédito.

Por exemplo, para um crédito cuja revisão seja feita em junho, é utilizada para cálculo da prestação a média mensal de maio, cuja descida é refletida na prestação a pagar em julho. "Muito possivelmente, e a manter-se a tendência decrescente, é provável que a média de maio já seja negativa", explicou Filipe Garcia.

Assim, essas famílias com a revisão do empréstimo em junho verão não só a prestação diminuir no mês de julho por efeito da queda da taxa, como também por esta ser abatida ao spread.

Taxas negativas abatem spread

No início do mês, o Banco de Portugal deu indicação, através de uma carta circular, de que as taxas negativas são para refletir nos créditos. Isto significa que já no segundo semestre haverá famílias e empresas que estejam apenas a pagar spread.

Por exemplo, num empréstimo com uma taxa média da Euribor de 0,1% e um spread de 1%, significa que a taxa anual nominal (TAN) é de 1,1%. Com a Euribor em terreno negativo, a situação inverte-se. Por exemplo, com a Euribor a -0,1%, este valor desconta ao spread e a taxa final a pagar é de 0,9%.

Dos cerca de 1,6 milhões de contratos de crédito à habitação existentes em Portugal, mais de 665 mil estão indexados à Euribor a três meses, segundo dados do Banco de Portugal referentes a 2013. Em termos médios, os portugueses têm um empréstimo de 94 mil euros a 31 anos.

A Euribor a seis meses representa a maioria dos contratos (mais de 794 mil) e esses devem sentir o efeito da taxa negativa, na prestação, até ao final do ano. "É possível que a Euribor a seis meses demore mais uns três a quatro meses até atingir valores negativos e as famílias sentirão o efeito mais no final do ano", disse o economista da IMF.

Filipe Garcia acredita que a permanência das taxas em terreno negativo "vai depender da posição que o Banco Central Europeu [BCE] venha a adotar nos próximos tempos. Para já, o BCE ainda não deu qualquer sinal, nem houve nenhuma alteração".

Além disso, destaca o economista, "há quase como que um chão que são os -0,2% da taxas de depósito do BCE". No entanto, "já é possível verificar no mercado obrigacionista cotações abaixo de -0,2%, deixando em aberto a possibilidade de o "chão" de -0,2% poder ser ainda ultrapassado", concluiu.

Fonte: Dinheiro Vivo

Sem comentários:

Enviar um comentário